Por Brazz Dy Vinnuh *

Antes da América ser do Sul, era doçura. Em algum lugar e tempo remotamente impresso, nas paredes dos livros de cavernas, rochas e rios contados por diversas personagens, odiendas ou cativantes e encantadoras. Lúdicas ou reais. Os pré-incaicos senhores da atemporalidade arquivaram na memória da terra, do homem e do tempo informações e conhecimentos, os quais insistem em bater à nossa porta diuturnamente. Enquanto os feudos se alinhavam contra ele mesmos, as suas crias se divertiam na rabeira das horas contadas nos relógios pelos raios solares; fosse em casa, nos palácios, nos campos, pradarias, pantanais, cerrados, florestas fechadas… Só se tinha “aqueles” momentos como testemunhas oculares — os rios, as pessoas, as pinturas, a cosmogenia.

 

 

Antes do Brasil ter essa forma, já, na engenhosa memória do homem borbulhava todo desassossego que, ao olhar do lado, se contamina(ria)… Visto que a única riqueza que se leva da superfície terrena é a ignorância na acepção da palavra, ou o conhecimento adquirido no transcorrer das épocas — um dos jeitos para se compreender como chegamos ao que somos hoje é por meio da cultura seja oral, escrita ou pictórica e a arte. Dentre as artes, uma delas com grandes possibilidades de elucidação, quase que de qualquer enigma, ainda parece ser a literatura.

H. H. Entringer Pereira, foi a mais fiel possível aos fatos narrados em sua obra de estreia como romancista, “Urucumacuã”. Sua verve jornalística lhe mostrou um leque de horizontes nesta investigação minuciosa, da galeria de dezenas de personagens inimagináveis, criação de nomes, lugares, coisas, os quais desfilam nas passarelas de diversos cenários mostrados na história contada em uma saga de “três” livros no primeiro volume (2012/2018), narrando com o máximo de veracidade, o momento que antecede a transição-transformação do Brasil, bem antes da visitação dos europeus.

 

Lançamento de “Urucumacuã” em Goiânia, 2018

 

O Brasil se encontrava neste mesmo lugar, aqui as pessoas viviam com intensidade, os povos do período que se destacavam eram os incas, de quem Urucumacuã, personagem central da obra de Entringer, trouxe sua linhagem austera. A obra não poderia ter outro desfecho, visto que a autora apenas revela os acontecimentos daquela “data”, por mais que a narrativa de “Urucumacuã”, não esteja sustentada cientificamente — por enquanto. Com o avanço da tecnologia, isso poderá ser comprovado futuramente.

O livro de Heloiza regata os derradeiros momentos de uma civilização devastada pela ganância e o desvio da moralidade saudável. Do respeito à vida como maior tesouro a ser conquistado. Ainda traz de presente ao leitor atento a iniciação ao processo de espiritualização cósmica. Conta ainda com elementos peculiares que podem nos levar a descobrirmos quem somos hoje. Em “Urucumacuã”, se tivermos o profundo cuidado de ao invés de apenas lê-lo, vivenciá-lo com acuidade, chegaremos à essência do que pelo menos almejamos em ser um dia, se tivermos paciência para tanto. Sem deixarmos de ser mortais equivocados, intransigentemente carentes de toda forma de afetos e autoamor. Até porque a paixão carnal pela outra pessoa (ou coisa) é mera metáfora do que devemos ser para nós mesmos. O Ser hominal é sagrado e profano na tentativa de perpetuar aquilo que caminha nas asas do universo cativo de cada um.

 

Expedição Dequech-Urucumacuã, organizada pelo Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, realizada no período de 1941 a 1943 em Rondônia (na época Território Federal do Guaporé). Nesta foto de Pedro Lima, num barco subindo o rio Guaporé, o índio Alcê (intérprete) e o médico Ary Tupinambá Penna Pinheiro.

 

Sobre esta obra a autora assim se manifestou, em entrevista ao jornal Folha do Sul (Rondônia, dia 20/07/2018) por ocasião de seu lançamento: “Urucumacuã numa língua indígena ancestral significa ‘pássaro de fogo’. Existe uma lenda que circula o mundo de que esse personagem é um príncipe que morou nesta região há alguns milhares de anos, deixando um colossal tesouro. Mas não há registros que certifiquem a real existência dele. Um dia, Brazz Dy Vinnuh, um artista e escritor vilhenense, meu amigo, pediu-me que escrevesse algo a respeito de Urucumacuã, dando vida ao personagem… Eu aceitei o desafio e assim comecei a escrever a minha própria interpretação biográfica da Casa Real do Príncipe da Beira do Rio e liguei no mesmo contexto os mitos e lendas amazônicas mais conhecidas, numa interpretação particular e única de suas origens…”.

H.H. Entringer Pereira é escritora, jornalista, presidente da Academia Vilhenense de Letras. Nascida em 03/04/1956 em São Rafael, no Espírito Santo, a autora do livro “Urucumacuã” (Lura Editorial) é Bacharel em Direito e trabalhou no Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia. Mora em Vilhena (RO). Casada com Salvador Pereira Júnior, é mãe de quatro filhos. Faça contato: https://www.facebook.com/hentringerpereira.

 

No Encontro Internacional da AJEB-RO, em Guajará-Mirim

 

* Poeta, agricultor e artista visionário, Brazz Dy Vinnuh reside em Chapada dos Guimarães (MT). É criador e mantenedor da Ocupação Cocriativa ArtFloresta. Contato: http://ciaabrazos.blogspot.com.br/ e https://www.facebook.com/abrazosycia?ref=hl.