Por Eduardo Waack

O compositor, multi-instrumentista, arranjador e maestro Luiz Waack — meu primo — é um músico que se destaca por sua sensibilidade, generosidade e virtuose. É um homem que tem trilhado seu caminho com seriedade e retidão. Filho de Maria e Carlos Roberto, nasceu em 1962 na capital paulista. Em seu estúdio que é também produtora, maravilhas sonoras são criadas e aprimoradas, estando seu trabalho presente nos mais diversos gêneros e ritmos da música popular brasileira. Entre os seus principais parceiros, destacamos Edvaldo Santana, Helena Badari, Alzira E, Maurício Pereira, o saudoso Itamar Assumpção e Rita Rameh (com quem lançou os discos “Por Que?” / 2006, “Embolada” / 2010 e “Você Que Inventa” / 2018). Lançou três discos solo, que já são antológicos: “Vidros e Trilhos” (1990), “Maguari” (1994) e “Abra os Caminhos” (2018). “Também participei em discos de Bocato, Paulo Lepetit e do pianista Fernando Moura, todos instrumentais”. Vamos conhecê-lo melhor!

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Apresentação. Fale-nos um pouco sobre você.

Luiz — Sou filho de uma pianista de mão cheia que não seguiu carreira de pianista, tornando-se professora do Estado e mãe; tive a sorte de ouvir interpretações inspiradas de List, Chopin, Mozart e Beethoven desde a primeira infância. Isto me influenciou diretamente na maneira de buscar o lirismo na minha forma de tocar por toda minha vida. Outra influência importantíssima foi a primeira fita cassete da família, que veio junto com o primeiro player da casa, de outro grande e inspirado músico com toque sutil: Luiz Bonfá ao violão.

Como a música surgiu em sua vida?

Luiz — Aos 12 anos comecei a ter aulas de violão e tive um mestre pouco atrelado a disciplina, técnica, teoria: José Valter Pini, mas muito motivador da sensibilização auditiva, da escuta. Isso ajudou muito a delinear minha busca musical através de sensações e emoções, antes do “saber” propriamente dito.

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Com Itamar Assumpção, Paulo Lepetit e Tonho Penhasco

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Quais suas grandes influências e pessoas que admira?

Luiz — Ainda nesta fase, além dos grandes da MPB (Milton e mineiros, Caetano, Gil, Chico, Gal, Bethânia, etc.) que meu mestre apresentava em suas aulas, tive contato com o rock do Yes, Led Zeppelin, Pink Floyd e outros, influências fortes na minha maneira de buscar sons. No ensino médio, tive contato com Stones, Rush, entre outros, mas quem me influenciou bastante foi Frank Zappa. Nesta época comecei a fazer trilha sonora ao vivo em teatro de bonecos, inclusive atuando nas montagens como um personagem (o músico). Em certo momento comprei minha primeira guitarra e comecei a tocar com outros músicos; de repente estava tocando com Bocato, Jerri Espíndola, e acabei indo tocar com Itamar Assumpção, o que me marcou profundamente na maneira de tocar guitarra, pela linguagem pausada e cheia de feeling blues. Destaco aqui a influência direta do grande guitarrista Luiz Chagas, a quem tive que substituir na banda Isca de Polícia, e também do incrível Jeff Beck que a todos influenciou e ainda influencia. A influência de Hermeto Paschoal, Egberto Gismonti, Pau Brasil e todos que compunham a cena do instrumental brasileiro também me marcou, assim como Miles Davis, Pixinguinha e todos os grandes do choro e da bossa. O jazz francês de Django, Joe Pass e tantos outros guitarristas ia desenhando caminhos em minha mente, que acabou fazendo de todo este mix um caminho pessoal. Impossível esquecer de Pepeu Gomes, Santana, Clapton, BB King, todos muito marcantes em minha formação. Neste caminho profissional, o contato com músicos da cena paulistana me enriqueceu a paisagem: Premê, Rumo destacadamente, além da própria banda Isca de Polícia da qual fui integrante.

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Quais seus principais parceiros musicais, e músicos com quem tocou e gravou?

Luiz — Ao longo da carreira foram se sucedendo muitas vivências, e pude tocar em shows, gravações ou participações em shows e no programa de TV Fanzine da TV Cultura (do qual eu era integrante da banda), e com muitos grandes nomes da música brasileira, dos quais destacaria Itamar Assumpção, Marisa Monte, Arrigo Barnabé, Alzira E, Ney Matogrosso, Edvaldo Santana, Lenine, Rapin Hood, Taíde, Zélia Duncan, Ed Motta, Paulo Moura, Maurício Pereira, Luiz Melodia, Guilherme Rondon, Ceumar, Cris Aflalo, Mona Gadelha, André Abujamra, Cássia Eller, Ná Ozzetti, Hermeto Paschoal, Oswaldinho do Acordeom, Altamiro Carrilho e muitos outros.

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Com Antonio Bombarda

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Suas atividades como produtor musical.

Luiz — Como produtor, além de trilhas para documentários, institucionais, e alguma propaganda, me dediquei essencialmente à produção de discos de compositores e interpretes, destacando entre muitos os nomes de Edvaldo Santana, Alzira E, Cris Aflalo, Mauricio Pereira, Sergio Espíndola e Rita Rameh, ambos ganhadores do Prêmio da Música Brasileira — categoria CD Infantil. Em diversas produções musicais pude fazer arranjos para metais, cordas ou da base, e essa é uma atividade que muito me agrada.

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Fale-nos sobre seu estúdio de gravação.

Luiz — Trabalhar em estúdio é um ofício que exige paciência, organização, método, ordem, conhecimento de softwares, microfonação, equalização, acústica, psicoacústica, compressão e efeitos de todo o tipo. Ao mesmo tempo, trabalhar com compositores requer sempre uma dose de imponderável, desordem, busca, experiências, testes, constatações que só acontecem no dia a dia, e sinto que é necessário um pouco de liberdade para que surpresas aconteçam, tanto as boas e as más. Gosto muito de produzir, de ouvir o autor e de ajudar a busca da forma de construir o arranjo de maneira que a letra e a interpretação fiquem naturais para o interprete. Gosto muito de tocar, e este é um dos meus dilemas, pois muitas horas de estúdio acabam afastando o instrumento de você, e preciso tocar para me equilibrar, amo tocar guitarras, violas caipiras, guitarra portuguesa, cavai, banjo, bandolim, violões, só que tudo isso demanda tempo e prática!

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Com o disco “Abra os Caminhos” (2018)

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Qual sua opinião sobre o panorama cultural e musical no Brasil atual?

Luiz — Panorama cultural brasileiro, pra mim, é um tema delicado, já que passei uma boa parte de minha carreira tocando com grandes músicos do underground da cultura brasileira, e, visto por este ângulo, só poderia abominar a falta de espaço, de educação musical, de memória, de cultura, a mediocridade que impera nos meios de comunicação, a pobreza e o desperdício de quem nem sabe de suas origens, como é grande parte do nosso povo, infelizmente. Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, João do Vale, Dorival Caymmi, Noel Rosa, Nelson Cavaquinho, Cartola, Lupicínio, Ataulfo, Pixinguinha, Kaximbinho, Waldir Azevedo, Luperce Miranda, Tião Carreiro & Pardinho, Angelino, Raul Torres, Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho, Jobim… Todos do samba, do caipira/sertanejo, do choro, da bossa e da MPB são um tesouro que, a exemplo de nossas divisas, nosso meio ambiente, entre outras riquezas, acaba sendo desperdiçado. Por outro lado, vejo que há sim uma nova geração brilhante e viva, muito informada; são inúmeros compositores, bandas, autores jovens e talentosos que já vem ao mercado com um cenário diferente, ligado às redes da internet, não só ao Brasil como ao mundo todo. Tulipa Ruiz, Anelis Assumpção, Kiko Dinucci, O Terno, Helena Badari, Karina Buhr, tanta gente que nem conheço, jovens instrumentistas e letristas, todos me dão muita esperança na mudança deste cenário.

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Com o parceiro e amigo Edvaldo Santana

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Quais seus planos para o futuro?

Luiz — Meus planos para o futuro são de viver o presente melhor, se possível com muita natureza, paz e inspiração. Quero me dedicar à retomada de meu trabalho instrumental para que minhas composições tomem rumo por aí, são minha vida, minhas experiências, sentimentos sobre tudo o que a vida tem me dado, o que não tem sido pouco. Continuar com meus parceiros, iniciar novas produções, tudo me anima, pois é o que sei fazer de melhor.

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No Espaço Cultural Casa Viva, em Piracaia (SP)

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Como as pessoas podem contatá-lo e apoiar ou adquirir o trabalho desenvolvido por você?

Luiz — Para contato deixo meu e-mail luizwaack@yahoo.com. Estou aberto a todos que me escreverem. Também estou presente nas redes sociais.

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“Tristeza Não”. Luiz com Alzira E, música de Itamar Assumpção e Alice Ruiz.

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“Chiclete com Banana”. Luiz com Cris Aflalo, música de Gordurinha e Almira Castilho.

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Show em comemoração ao aniversário de 35 anos do selo Baratos Afins. Novembro de 2013, Sesc Consolação, em São Paulo. Luiz Waack (guitarra), Lanny Gordin (guitarra), Luiz Carlos Faria (trumpete), Reinaldo Arcanjo (baixo), Daniel Szafran (teclado).

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