Por Rogério Salgado *
A poesia social evidencia as mazelas sociais de uma nação. O que caracteriza poesia social é quando seus versos expõe os problemas sociais de um país. Ela surgiu durante o romantismo, no século XIX, na França, por meio do escritor Victor Hugo. As obras desse autor inspiraram vários poetas, inclusive o brasileiro Castro Alves na sua luta pela libertação dos escravos. Vladimir Maiakóvski foi talvez, seu maior representante no mundo da poesia. No Brasil, entre os poetas do século 20 e 21 podemos citar Thiago de Mello e seu “Os estatutos do homem”, Vinícius de Morais e seu “O operário em construção”, Manuel Bandeira e seu “O bicho”, entre outros. O poeta pode falar sim, de seu mundo com certeza, mas sem se deixar envolver no egoísmo e esquecer que existe o mundo dos outros.
Aqui, no Brasil, acreditem ou não, há muitos poetas anti-sociais, como por exemplo, poetas que apoiam políticos que se aproximam da ditadura, dos grandes empresários, daqueles que tentaram dar um Golpe de Estado no dia 8 de janeiro de 2023. Se o poeta não concorda com as posições da democracia que rege nosso país, tudo bem. Mas seria então mais digno manter a sua neutralidade e escrever versos sobre si mesmo, a esquecer que Democracia ainda é o meio mais cristão de se viver e que numa ditadura pessoas são torturadas e assassinadas nos porões sombrios, como os que foram pelo Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ídolo do nosso ex-presidente, tão aplaudido por cristãos católicos, espíritas e evangélicos, que nos pedem com suas mensagens, que amemos o nosso próximo. Seria isso hipocrisia?
Ao abrir a primeira página de “O Peso da Cor” (Editora Bacalete) do poeta José Hilton Rosa fui me envolvendo a cada linha, a cada estrofe, a cada poema. Chutei o balde da estética literária e outras coisinhas mais que os chamados críticos buscam logo de cara e observei ali uma poesia não preocupada com seu próprio umbigo, mas com o umbigo dos outros, seus irmãos. Tive sim, uma identificação muito forte com “O Peso da Cor”: sua poesia demonstra grande preocupação com o social, com o ser humano, com as injustiças. Seus versos respiram amor ao próximo, demonstram sua preocupação com um mundo mais justo, mais digno de se viver (coisa que só artistas cristãos verdadeiramente, se preocupam). E fala sem medo de dizer o que pensa, mesmo para aqueles que por posições opostas à sua se sintam magoados com tantas verdades. Aqui, a maior verdade é a sua poesia. Ele vai direto na veia. Vejamos o poema “Para o dia 19 de junho de 2021”, em que diz:
“Amigos, me dê as mãos / juntos vamos defender nosso país / Brasil não merece ser assassinado / passivamente não podemos esperar a morte / nossas vidas não são vossas / um messias não tem o direito de nos assassinar / por que se entregar? / Como trabalhamos, o alimento podemos doar / para que serve o fuzil, as botas engraxadas, os tanques com / canhões? / Nosso povo varonil / fuja com seu fuzil / seu sustento, quem produz somos nós / trabalhadores do Brasil.”
Aqui homenageia o músico Victor Jara, vítima da ditadura chilena de Augusto Pinochet, que teve as mãos decepadas e logo após, deram-lhe um violão para tocar: Vejamos: “A arte de ouvir é também / a arte do saber / a arte do saber é também / a arte do ouvir / escolher o ouvir / é também arte! / Assassinado pela arte de saber / defender o social / apenas saciou os militares, / genocida Picochet / com sua morte!”.
Mas a poesia de José Hilton Rosa não fala só desse assunto. Como todo bom poeta, percorre caminhos de sua própria existência e até arrisca num excelente soneto, em que diz: “Meu corpo é minha morada / quero sentir o calor do seu amor / sem crise e sem espada / viver feliz, juntos sem rancor / com as asas de minha alma voar / cantar sentimentos sem choro / no meu carinho agasalhar / chamar meu amor para o coro / quero ser um pássaro cantante / nas asas abertas receber o alimento no bico / com meu amor seguir adiante / lembro quando mandou dizer / sem você juro que nunca fico / devemos viver juntos com prazer”.
José Hilton Rosa nasceu no sudoeste mineiro. Formou-se em diversos cursos técnicos (eletrônica, mecânica, eletricidade, tratamento d’água, geração de vapor, contabilidade, psicologia do trabalho, sindicalismo, gestão de pessoas e parapsicologia). Publicou de maneira independente oito livros de poesia: “Laços de Sangue”, “Choro de Sangue”, “Versos em Alças de Fogo”, “Sorriso e Lágrimas”, “Inversos”, “Alma Exposta”, “O peso da Lágrima” e “O Sorriso da Lua”. Quatro livros infantis: “Fazenda Salinas”, “A gata esperta e o cão vigilante”, “O lobo não é mau” e “O gato e o rato”. É membro do Movimento Poetas Del Mundo com sede no Chile. Também é membro da Confraria de Poetas Belo Horizonte; acadêmico da ALPHAS 21 (Academia de Letras, Palavras e Artes do Século 21), cadeira nº 10. Acadêmico na AMCL (Academia Mundial de Cultura de Literatura), cadeira 55 e membro da UHE (Union Hispanomundial de Escritores).
“O Peso da Cor” é um livro honesto e consciente como seu autor e desses raros que eu, poeta, me senti identificado nos seus versos. E por fim, o poema que dá nome ao livro: “Sou negro por fora / vermelho por dentro / meus suspiros sem cor / meu amor é de todas as cores / sou surdo para muitos / cego para outros / falo sorrindo para quem admiro / ando no terreno de todos / não escondo meu nome / esqueço como vim parar aqui / alimentando de bons olhares / sorrindo para o belo / expulsando aqueles do ódio / pedindo distância para me acalmar / ajoelho no banco da igreja / sem olhar para os curiosos / peço perdão pela atitude egoísta / alimento com palavras amigas / ofereço o que tenho nas mãos / me despeço com abraço humano / de todas as raças / de todas as cores!”.
“O Peso da Cor” tem como editor Luciano Bacalete, coeditora Fabiana Lourenço Bacalete, assessoria bibliotecária de Maurício Amormino Jr; diagramação de Potira Manoela de Moraes, arte da capa de Beatriz Augusto e prefácio de Lázaro A. Mariano. Contatos: joiltonrosa@yahoo.com.br, www.josehiltonrosa.recantodasletras.com.br, www.facebook.com/josehiltonrosa.
* Rogério Salgado é poeta, com 49 anos de carreira literária. Publicou recentemente “Antes que a lua enfarte”.
EXCELENTE MATÉRIA DO POETA ROGÉRIO SALGADO. AGRADEÇO SEU ENVOLVIMENTO NOS MEUS SENTIMENTOS DE POETA.
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Oi Rogério! Muito grato. Ficou excelente. Abraço de muito obrigado!
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Bom dia…
Parabéns meu querido!!!!!
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Perfeito Rogério! Parabéns mais uma vez!
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Junção de dois grandes nomes. Ficou maravilhoso!!!
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Como sempre, o poeta Rogério Salgado expõe e extrai com maestria as entrelinhas e entrechos de uma obra. A poesia de José Hilton Rosa fica encantada ao ser decantada nesta prosa, por outro grande poeta.
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Caro Samuel Costa. Li atentamente a citação que me envia, assinada por José Hilton Rosa, e permita-me que lhe diga que discordo em absoluto do que o escritor defende. Eu próprio persigo a máxima que criei: que não caiba ao poeta a omissão. E quando digo poeta quero também dizer escritor. E não estou só nesta auto determinação, creia. Em Portugal, o meu país, antes e durante a Revolução dos Cravos, de que acabamos de celebrar a passagem cinquenta anos, ficaram notabilizados muitos poetas e escritores que através das letras lutaram contra a mais longa ditadura da Europa. E por isso muitos deles foram presos, torturados e até exilados. Sou, de há muito, um embaixador da paz em Portugal, ligado ao Círculo Universal dos Embaixadores da Paz, com sede em Genéve. Ainda há pouco tempo enviei aos meus pares dessa instituição disseminados por todo o mundo uma carta aberta apelando à implementação de acções denunciando os obstáculos que estão a impedir que o nosso maior objectivo, a Paz no mundo, possa ter as consequências que todos desejamos. Manifesto-me à disposição para, se o desejar, lhe fazer chegar toda a espécie de exemplos dos muitos que disponho a este respeito. E acredite, caro Samuel Costa, que considero nobre a missão a que de há muito me obriguei. Mas é claro que também escrevo poesia amorosa e de outras variadíssimas temáticas. Felizmente que essa capacidade continua a estar ao meu alcance. Saudações do Eugénio de Sá
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Somente repassei o texto do meu amigo Rogério, sou brasileiro e temos visões e vivencias diferentes do mesmo processo. Na minha opinião de brasileiro e afrodescendente, digo que a crise no capitalismo ocidental branco e cristão é profundo, somado a isto tem o fato de Portugal que perdeu o controle do idioma em um processo que não começou hoje. E faço um paralelo com a língua inglesa onde o gigantismo dos Estados Unidos não engoliu a língua inglesa e as ilhas britânicas ainda estão formes e fortes. Este é um tema delicado e profundo e te oriento a se dirigir diretamente com o autor do texto para maiores esclarecimentos.
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Tenho 70 anos e 49 de jornalismo e poesia. Militei pela esquerda por mais de 40 anos. Hoje sou só um escritor aposentado e não milito mais, pois tem pessoas novas surgindo e na obrigação de dar continuidade. Apenas escrevi o que penso como leitor que leu o livro “O peso da cor” e escrevi sobre ele, como jornalista que sou. Tou fugindo de polêmicas e no momento estou envolvido 90% com a divulgação e venda de meu novo livro. Agora, sobre o que o poeta José Hilton Rosa escreveu e escreve, debatam com ele. Na matéria d’O Boêmio tem o e-mail dele. Tenham uma boa noite. Rogério Salgado.
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Amei a matéria e os poemas. Merecem meu aplauso. Quero ler!!!!
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