Por Aristides Theodoro *

            Picasso, pintor e não escritor, concebeu nos anos trinta, após os aviões de Hitler haverem bombardeado Guernica, um dos quadros mais famosos e enigmáticos deste século, intitulado “Guernica”. O famoso escritor Ernest Hemingway disse que “Paris era uma festa móvel”. O baianíssimo Jorge Amado prestou homenagens à sua terra natal, com títulos como os que se seguem: “Bahia de Todos os Santos” (1945), “São Jorge dos Ilhéus” (1944); “Bahia” (1973) em colaboração com Carybé e ainda “Bahia Boa Terra Bahiana” com Flávio Damn e Carybé (1973).

 

Salvador, Bahia

 

                O sociólogo pernambucano Gilberto Freyre escreveu em 1939 “Olinda — Guia Prático, Histórico e Sentimental de Cidade Brasileira”, “Assombrações do Recife Velho” (1955), “O Recife, sim! Recife não!”, “Bahia e Baianos” (póstumo), “Brasis, Brasil Brasília”, “Na Bahia em 1943” e “Apipucos, o que há num nome”, livro onde o velho mestre de “Nós e a Europa Germânica” se derrama em elogios rasgados a um bairro do Recife. José Condé escreveu um belo livro que recebeu o nome de “Terra de Caruaru”; o refinado paulistano Mário de Andrade gestou e concebeu um dos mais bonitos versos da nossa poética, dizendo assim: “São Paulo! Comoção de minha vida…” Na área do cangaço e do fanatismo religioso no Brasil, vamos encontrar uma infinidade de títulos onde as cidades são citadas. Vejamos como Raimundo Nonato denominou o seu extraordinário e extenso ensaio: “Lampião em Mossoró”. O americano Ralph Della Cava publicou um clássico do gênero, intitulado “Milagre em Juazeiro”; o paulista Lourenço Filho editou em 1926 “Juazeiro do Padre Cícero” e o Padre Azarias Sobreira dando a sua contribuição fez vir à tona o conhecido estudo “O Patriarca de Juazeiro”. Aldenor Jayme Alencar Benevides, o Filósofo do Piripau, publicou um livro, já com várias edições, chamado “Padre Cícero e Juazeiro”.

 

Juazeiro do Norte, Ceará

 

            O romancista Roniwalter Jatobá também deu seu recado com um livrinho delicioso, “Juazeiro: Guerra no Sertão”. Coelho Neto apelidou a urbe do Rio de Janeiro de “Cidade Maravilhosa”, tornando isto mais tarde de domínio público. O pernambucano simpático, Olegário Mariano, que ficou picado de inveja, também cuidou de publicar em 1930 a sua “Cidade Maravilhosa”. O francês André Malraux, por ocasião da inauguração de Brasília, a convite de Juscelino Kubitscheck, no seu discurso de inauguração chamou a Nova Cap de “A Capital da Esperança” (quem sabe, se autoplagiando, pois o mesmo Malraux tem um livro que se soletra assim: “A Es-pe-ran-ça”).

 

São Paulo, a capital dos paulistas

 

            Mario Puzzo, autor de “O Poderoso Chefão”, escreveu uma novela sobre jogatina e máfia nos Estados Unidos intitulada “Las Vegas” e Zola, o grande Zola, autor do libelo audaz “J’acuse…!” em defesa de Dreyfuss, publicou na esteira dos seus grandes livros “Paris”, “Lourdes” e “Roma”. O escritor sergipano Antonio Paim editou em 1966 “A Filosofia da Escola do Recife” e o jurista Clóvis Beviláqua, “História da Faculdade do Recife”. O romancista alemão Thomas Mann, por sinal, filho de mãe brasileira, quando exilado em várias partes do mundo, escreveu, fugindo dos terrores do nazismo, um romance denso, forrado de tensão e angústia, que recebeu na sua revisão final o belo título de “Carlota em Weimar”, bem como o seu mais conhecido livro, “A Morte em Veneza”, mais tarde filmado com retumbante êxito de bilheteria.

 

Recife, Pernambuco

 

            “Rumo a Los Angeles” é uma saborosa novelota do norte-americano John Fant. Tobias Barreto, o grande e injustiçado Tobias, deslumbrado pelo brilho da cidade que escolhera para viver, sofrer e brigar, escreveu estes versos de incontida beleza, que se intitulam “À Vista do Recife” e que estão no seu “Dias e Noites”: É a cidade valente / Brio da altiva nação, / Soberba, ilustre, candente, / Como uma imensa explosão: / De pedra, ferro e bravura. / De aurora, de formosura, / De glória, fogo e loucura… / Quem é que lhe põe a mão?. “O Rio de Janeiro do meu tempo” foi escrito por Luiz Edmundo. João do Rio, o afetadíssimo jornalista carioca, também deu sua contribuição à cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, escrevendo “As Religiões no Rio” e “Alma Encantada das Ruas”, perfis fidedignos da cidade nos fins do século XIX.

 

Rio de Janeiro, antiga capital federal

 

            Jon Gilbert montou com farta documentação, “Mitos e lendas da Roma Antiga”, uma edição ilustrada (hoje) analisando com profundidade o viver na velha Roma eterna dos Césares. O romancista andreense Antonio Possidonio Sampaio denominou uma de suas novelas de cunho social de “Manhattan do Terceiro Mundo”. O autor destas tortas linhas publicou em 1991 pelas Edições Mariposa um livrinho de gratidão, com este título quilométrico: “O Poeta passeia por São Paulo num sábado à tarde”. O baiano Edison Carneiro escreveu “A Cidade de Salvador” e Luis da Câmara Cascudo, “História da Cidade de Natal” e “Notas e documentos para a história de Mossoró”.

 

Mossoró, Rio Grande do Norte

 

            O suíço Blaise Cendrars tem uma extraordinária novela que recebeu o nome de “Hollywood”. Érico Veríssimo escreveu “México” e “Israel em Abril”. Lawrence Durrel publicou “O Quarteto de Alexandria”. “São Paulo dos meus amores” é invenção de Afonso Schmidt. James Joyce, exilado que nunca pode esquecer sua terra natal, escreveu um livro de contos intitulado “Gente de Dublin”. Mon petit Proust, o refinado dândi francês, tem o seu “Sodome et Gomorrhe”. Antonio de Alcântara Machado, prestigiando alguns bairros de São Paulo, lançou “Brás, Bexiga e Barra Funda”. O sarcástico François Marie Arauet (Voltaire) e o dentuço e magricela Eça de Queirós, ambos escreveram “Cartas da Inglaterra”. “Os Subterrâneos do Vaticano” é criação do polêmico André Gide. Victor Hugo lançou “Nossa Senhora de Paris”. “Os Mistérios de Paris” são de Eugene Sué e o nosso Josué Montello, tido como o mais extenso diarista do mundo, brindou seus leitores com “Os Tambores de São Luiz”, livro que dignifica a Língua Portuguesa. “Luanda Beira Bahia” e “Auto de Ilhéus”, foram pensados e datilografados por Adonias Filho.

 

São Luís, Maranhão

 

* Nascido em Utinga (BA) em 27/11/1937, e falecido em Mauá (SP) em 29/09/2023, Aristides Theodoro é poeta, ensaísta e contista, autor, entre outros livros, de “Dandaluanda” (1982), “O poeta passeia por São Paulo num sábado à tarde” (1991), “Não contribuirei com um só óbolo para a construção do novo mundo” (2002), “O cangaceiro e outras histórias de Curiapeba” (2006) e “Não faz mal, é setembro, início de primavera” (2015).